February 15, 2005

UMA CARTA SURPREENDENTE

Hoje, dia 15 de Fevereiro, o dia em que foi decretado o luto nacional pela morte da irmã Lúcia e o dia em que as campanhas eleitorais foram suspensas, recebi uma carta bastante curiosa.
O envelope em que vinha carta só tinha uma inscrição: "Se não costuma votar, leia esta carta", tenho de admitir que o título suscitou o meu interesse, não é que eu não costume votar (pelo contrário, ainda não falhei um acto eleitoral) mas fiquei curioso com a estratégia de marketing político que um qualquer partido (na altura ainda não sabia quem mandara a carta) tinha aproveitado.
Estava eu no elevador quando a decidi abrir, era do nosso ainda primeiro-ministro!
Como já disse recuso-me a votar seja no PS seja no PSD nestas eleições, estou a achar que a campanha de ambos os partidos já atingiu os mais degradantes níveis de ridículo… Prova disso foi esta carta cujo destino era convencer os que não vão votar a votarem no PSD.
Na carta assinada pelo Pedro Santana Lopes vêm algumas frases emblemáticas como: “Tenho defeitos como todos os seres humanos, mas conhece algum político em Portugal que eles tratem tão mal como a mim?” ou “Desta vez venha votar. É um favor que lhe peço!”.
A minha questão é a seguinte: Não é provável que uma pessoa que não vá votar se esteja simplesmente nas tintas para a situação política nacional? Se o acto de não ir votar fosse de protesto para que é que serviriam os votos nulos e os votos em branco? Uma pessoa que queira protestar vai mais facilmente escrever mil e um insultos num boletim de voto do que ir para a praia (por exemplo). Penso que os níveis de abstenção que ocorrem em todas as nossas eleições se devem não a um protesto, mas a uma noção subconsciente que ganhe quem ganhar vai tudo ficar na mesma (Daí, porquê estar-me a deslocar à secção de voto se posso fazer qualquer coisa que me apeteça mais, afinal as moscas mudam mas a merda é a mesma!). Não acredito mesmo que uma pessoa que decida não ir votar esteja a protestar seja com que coisa for!
Anyway, se uma pessoa normalmente não vai votar, vai-se mesmo dirigir à secção para votar num caramelo que lhe mande uma carta a chorar por todos os lados e a pedir por favor? Não me parece…
Em Portugal pode-se ser indiferente em relação à política, mas em relação a pessoas que se auto-vitimam normalmente não há grande pachorra.
Claro que no dia 20 posso ser forçado a engolir este texto, mas isso só acontecerá se os níveis de abstenção desçam consideravelmente e o PSD ganhe as eleições. Como acho que a probabilidade desses dois acontecimentos vierem a ocorrer simultaneamente nestas eleições é de 0,00000000001% não me parece que tenha de admitir qualquer hipotético erro de análise.
Até já!
versão integral da carta
envelope