February 09, 2005

O FIM DA MÍSTICA?


O Diário Económico noticia hoje na sua edição impressa que Malcolm Glazer, milionário americano e proprietário dos Tampa Bay Buccanneers, fez mais uma tentativa de aquisição do mítico clube inglês Manchester United (MUFC). Não são avançados muitos detalhes sobre a oferta pública de aquisição (OPA), no entanto é sabido que o empresário, já detentor de 28,1% do capital do MUFC, pretende pagar cerca de 300 pence por acção (que se encontram cotadas a 275,75), o que implica, mais coisa menos coisa, um investimento de 1,2 mil milhões de Euros para adquirir as acções necessárias para controlar o clube.
De acordo com Roy Kaitcer, analista da Brewin Dolphin, Malcolm Glazer tem hipóteses de conseguir de conseguir que a OPA seja bem sucedida.

Esta notícia é algo que certamente não será muito agradável tanto para a massa associativa do MUFC como para alguns dos seus símbolos desportivos, pelo menos é o que eu depreendo das declarações de Ryan Giggs ao Daily Mail:
"The general feeling is that the club is in good hands,"(...) "This club cannot get any better than it is at the moment. We sympathise with the fans. Of course we do”. "Nothing needs to change, we hope that continues. As far as the fans are concerned, the team and the club and the way the whole thing is being run at the moment shows that there is nothing wrong at all."
Esta febre de aquisições de clubes de futebol já vem de alguns anos. Tudo começou em 1997 com a aquisição do Fulham, também da liga inglesa, por Mohamed Al-Fayed, proprietário da cadeia de retalho Harrods que, em 4 anos, investiu aproximadamente 70 milhões de libras e levou o clube londrino da Division 2 (a nossa 3ªdivisão) até à Premier League. O sucesso desportivo desta operação é evidente pelo que os adeptos estarão certamente gratos, no entanto Al-Fayed era já, antes da OPA, um fanático pelo Fulham, ou seja um adepto, pelo que, simplesmente, introduziu uma componente de gestão empresarial no clube, não o tratando somente como mais uma empresa.

Também em terras de sua majestade aparece o mais mediático caso de investimento no futebol: Roman Abramovich que, depois de vender parte dos seus negócios de alumínio e indústria automóvel, pagou cerca de 400 milhões de dólares pelo também londrino Chelsea e por alguns dos melhores jogadores do mundo. Mais uma vez os resultados são evidentes e por isso os adeptos não podem andar muito chateados, no entanto não revejo as boas intenções de Al-Fayed nesta operação do multimilionário russo. Quem é que garante aos adeptos do Chelsea que se o clube começar a ter maus resultados e, consequentemente se desvalorizar, o Abramovich não parte para outros portos? Nesta operação faltou a componente de amor clubístico, foi simplesmente uma boa oportunidade de negócio.

Por outro lado, o investimento no futebol também pode ser visto como um ponto de afirmação de um país na cena internacional. Através da Lybian Foreign Investment Company (LAFICO), Al-Saadi Khadafi, filho de Muammar Khadafi adquiriu em 2003, 7,3% do capital da Juventus de Turim, tal como uma percentagem desconhecida (mas certamente grande) do capital do Perugia, da Série B italiana. Certamente porquê? Perguntam vocês, porque o próprio Al-Saadi, um engenheiro, é actualmente jogador do clube!

Mais recentemente, o clube brasileiro Corinthians estabeleceu uma parceria com uns contornos também um pouco estranhos com a empresa britânica Media Sports Investments. Esta parceria e o consequente diálogo contagiante do seu presidente iraniano Kia Joorabchian fizeram com que o Corinthians adquirisse alguns jogadores muito bem cotados a nível internacional, como é o caso do argentino Carlos Tevez (15 milhões de Euros).
Claro que os adeptos dos clubes mencionados só podem estar felizes com a situação, afinal de contas a sua probabilidade de sucesso desportivo aumentou, porém até que ponto é que este paralelismo entre grandes fortunas individuais e clubes de futebol vai ser benéfico a longo prazo?

As fortunas de Al-Fayed, Abramovich, Khadafi, Joorabchian (com ligações ao bilionário russo Boris Berezovsky) e agora Malcolm Glazer, irão provavelmente dar muitas alegrias aos adeptos dos clubes envolvidos, mas esta situação poderá arruinar o futebol como o conhecemos actualmente, poderá destruir a magia e poderá mandar à vida alguns clubes mais pequenos, sem capacidade para competir com os colossos criados a partir dos investimentos megalómanos.
Será que no futuro vai aparecer uma liga a nível global, em que só alguns terão capacidade para participar? Para mim, como amante do futebol e da mística que o envolve isto é uma situação preocupante…