January 08, 2005

O DERBY

Amanhã é o grande dia. O dia do grande derby do futebol português. O dia do Sporting-Benfica. Como sportinguista ferrenho que sou, nem me passa pela cabeça não estar em Alvalade, mas este post é essencialmente destinado a retratar o background que antecede o derby.
Apesar de ser um derby entre dois clubes com grande dimensão nacional, este derby é obviamente associado a Lisboa onde, arrisco dizer, uns 95% da população sofrem por uma das equipas. Esta situação faz com que nas 6/7 horas que antecedem o jogo, Lisboa "entre em estágio". Começa tudo com as romarias ao estádio, camionetes chegam de todo o país para trazer os muitos adeptos dos diferentes núcleos sportinguistas e benfiquistas espalhados por terras lusas, esses adeptos, com o seu modo particular de viver a festa, lá se vão amontoando junto das várias roulotes, vendedores de cachecóis e vendedores de queijadas que estão espalhados em redor do estádio. Outros, menos tradicionais, dirigem-se ao Alvalaxia, seja à gigantesca Loja Verde, ao Bowling ou aos restaurantes. Em qualquer um destes dois casos os temas de conversa irão ser certamente pouco diversificados: as novas transferências dos clubes, as forças e fraquezas de cada plantel, as combinações da viagem de regresso e as equipas que deveriam ser apresentadas, tudo isto no meio dos inevitáveis prognósticos.
Algumas horas depois, nós os lisboetas começamos a ir ter uns com os outros para nos prepararmos para o grande jogo, seja no café habitual, na Portugália ou noutro sítio qualquer, mesas começam a encher, ora com cachecóis verdes ora encarnados, os temas de conversa são essencialmente os mesmos e, naturalmente começam as picardias, com cada um a "defender o seu peixe". Entretanto, as claques acabam de se organizar, as enormes concentrações de adeptos começam a caminhar em direcção ao estádio, com os mais variados cantigos (a maior parte deles a cascar na equipa adversária), cativam os transeuntes, dando-lhes também o "bichinho do jogo". Por esta altura, já a maior parte dos taxistas não tira os ouvidos das rádios que começaram os especiais, sou capaz de apostar que bem mais de metade deles irão ter o rádio sintonizado na TSF, na Renascença ou na Antena 1, os níveis de ansiedade começam a atingir valores altissímos.
Faltam menos de duas horas para o jogo, o metro de Lisboa está apinhado de pessoas com destino ao Campo Grande ou a Telheiras, as estradas que circundam o estádio de Alvalade começam a tornar-se um misto de carros mal estacionados, arrumadores e polícia de intervenção, os cafés e restaurantes com Sport TV enchem com pessoas que desejariam ir ao jogo mas não conseguiram arranjar bilhete, todos estes sentem o jogo como se no estádio estivessem, os ânimos estão ao rubro, o apito inicial aproxima-se.
Falta uma hora para o jogo, como é Sábado e poucos são os que trabalham, o estádio está já cheio, entoam-se cantigos, desfraldam-se bandeiras, os cachecóis estão no ar. O ambiente está ao rubro, as equipas entram para os habituais exercícios de aquecimento, uma avalanche de pessoas grita pelos seus nomes, a pressão aumenta (tal como o número de stewards e polícia).
No momento em que o Duarte Gomes apitar para começar o jogo, já a festa começou à muito, as vozes já estão roucas, mas não irão ceder aos 90 minutos que serão o pico da noite.
Amanhã é o dia da grande festa que é o derby eterno do futebol português, um derby que remonta a 1 de Dezembro de 1907, quando o Sporting derrotou o então Sport Lisboa por 2-1 (golos de Cândido Rodrigues e de Cosme Damião na própria baliza). Espero que amanhã a vitória caiba à mesma equipa.
Viva o Sporting!