January 23, 2005

O ÁRBITRO


Imagem da capa do livro “Fora o árbitro”, Teotónio Lima, Março 1982
Porque raio quererá alguém ser árbitro de futebol em Portugal? Não faltam meios de comunicação social que mostrem o quão mal tratado é um árbitro nestas nossas terras. Se ainda fosse em Inglaterra, onde os árbitros são considerados parte integrante do espectáculo, ou num país escandinavo, em que o sangue dos adeptos para ferver precisa de muito mais do que uma má decisão da equipa de arbitragem, isso ainda era na boa, mas em Portugal?!?
Aqui na ocidental praia lusitana um árbitro, assim que é nomeado para um jogo, começa logo a ser visto como o mau da fita, aquele que vai lixar completamente o clube da nossa preferência, aquele que se não existisse nós já éramos campeões!
Como será para uma mãe ter um filho que aos 6 anos se vire para ela e diga “Mãe, o que eu quero ser quando for grande é árbitro!”? Será mais provável que ela vá apoiar incontestavelmente o desejo do seu rebento ou será que ela se vai enfrascar numa garrafa de vodka?
Como será para um puto na escola não querer jogar à bola com os amigos porque prefere arbitrar? Será que ele tem consciência que se vai tornar o bobo da corte da turma?
Como será para um pai estar a ver a bola com os amigos e ver uma decisão do seu filho que fez com que a sua equipa não conseguisse ganhar o jogo? Vai manter aquele orgulho paternal, ou vai-se juntar ao coro de vozes que lhe chama filho da p*ta (Apesar de neste caso a dita ser a sua mulher)?
Ainda para mais um árbitro começa sempre nas divisões mais baixas, o que é que tem de estimulante ser insultado pelos adeptos num jogo como o Padernense – Sambrazense (Distritais do Algarve)? E isto se não for agredido!
Tendo em conta que vai ter de esperar inúmeros anos até chegar à categoria máxima do futebol português, qual é a verdadeira ambição de um árbitro? E mesmo chegando à primeira categoria, será que ele vai gostar de ver o número de pessoas que o insultam a aumentar exponencialmente?
A classe profissional a que me refiro é de facto a única autoridade dentro de um campo de futebol, mas será que essa autoridade é um atractivo suficiente para aqueles que pensam ser árbitros? É como a própria APAF diz: O árbitro “é o único que nunca é aplaudido à entrada, e quase sempre assobiado, vaiado e insultado à saída.” (Ver documento em PDF intitulado “
A verdade acima de tudo”. Que falta de amor próprio é esta que faz com que alguém escolha ser árbitro? Qual é o triunfo que eles sentem após levarem com insultos que vão desde o típico e politicamente correcto “Gatuno” até aos insultos dignos dos dicionários mais obscuros?

Sejamos realistas, nem sendo totalmente honesto um árbitro consegue ser bem visto na nossa sociedade, há sempre imensa gente que lhe tem um ódio de morte! Palavra de honra que não consigo ver o que pode atrair uma pessoa a enveredar por esta profissão! Chamem-me close-minded se quiserem, mas a não ser que alguém me dê uma justificação convincente vou continuar com esta dúvida existencial!